Conversas & Carreiras 

Susana Belchior Leitão

Managing Partner Grupo Argo Partners (Argo Talents e Argo Fit)

Pode falar-nos sobre o seu percurso profissional?
Apesar de já serem quase 20 anos, o meu percurso profissional resume-se a três “casas”. A primeira casa de que fiz parte foi a Arthur Andersen/Deloitte, em 1999, onde após ter terminado a minha licenciatura, entrei como Consultora Fiscal, desenvolvendo os mais variados projectos, até me tornar Manager, em 2007.
Ainda em 2007, mudei para a segunda casa, a consultora de recursos humanos Jason Associates, onde fui responsável pela gestão de diversos projectos de Assessment e Executive Search, a par de assessment de profissionais de Top e Middle Management, abrangendo vários sectores de actividade, até ao ano de 2013.
Nesse ano, com o franco e feliz crescimento da empresa, fui desafiada a assumir a responsabilidade de gerir a equipa de 20 consultores com quem trabalhava, passando a Business Unit Manager da área de Talent Attraction e Assessments, algo que me deu muito gozo.
Durante 10 anos, a Jason Associates foi a minha segunda casa e a minha segunda família. A equipa deixou de ser apenas a equipa, para passar a ser um grupo de amigos, com os quais estava todos os dias.
Dez anos passaram e, em 2017, com a aquisição da Jason Associates por parte da consultora Mercer, esta minha segunda família teve que “cortar o cordão umbilical” e formar um novo negócio, totalmente dedicado à aquisição global de talento, uma vez que essa compra não abrangeu esta área.
Novo momento, nova vida, as mesmas pessoas, o mesmo conhecimento, paixão e motivação renovadas, fizeram nascer o Grupo Argo Partners, constituído pelas empresas Argo Talents e Argo Fit, a minha terceira casa, onde sou Managing Partner e da qual sinto muito orgulho.

Como vê o mercado de trabalho qualificado, em Portugal? Quais as tendências que merecem especial relevo?
Nas últimas décadas, tem sido possível assistir a profundas alterações no mercado. Desapareceram grandes empresas e surgiram novos negócios e talentos, que têm vindo a ganhar protagonismo no mercado.
Durante muito tempo, as equipas executivas focaram as suas atenções em 2 eixos: Estratégia de Negócio e Optimização de Processos. Contudo, apesar dos seus esforços para tornar a Gestão uma ciência cada vez mais objectiva, nem sempre os resultados produzidos corresponderam às suas expectativas.
Na perspectiva da Argo Partners, que é também a minha, as equipas de Gestão não têm dado a devida atenção a um terceiro eixo: a Flexibilidade Organizacional. Esta traduz-se na capacidade dos diferentes elementos colaborarem para a obtenção de um resultado comum e na sua capacidade de adaptação a contextos de rápida mudança e com variáveis até à data desconhecidas.
A meu ver, quando esta flexibilidade é partilhada por diferentes elementos da Organização, é possível atingir uma plasticidade organizacional, que garante às empresas um maior foco em tempos de volatilidade e uma maior resiliência, perante os obstáculos que vão surgindo.
Por todos estes aspectos, considero que para chegar a esta plasticidade organizacional é necessária a integração de pessoas que tenham as competências do framework que utilizamos na Argo Partners, para identificação de talentos e que se desdobra em 3 grandes eixos: Mental Agility, People Agility e Business Agility.

Da sua experiência pessoal, quais as indústrias, as áreas funcionais e as profissões que se têm vindo a destacar, em termos de dinamismo (leia-se geração de processos efectivos de recrutamento?
Actualmente, os sectores do turismo, real estate e sector financeiro estão a ter muito dinamismo. Em termos funcionais, assistimos a uma enorme procura de pessoas ligadas à área de Digital Marketing, User Experience, Data Science, Cybersecurity, Business Intelligence. Os profissionais de Recursos Humanos e Comunicação Interna têm tido também muita procura, pela necessidade crescente das Empresas reterem e desenvolverem talento.

Daqui a dez anos, qual será o cenário da indústria, em Portugal? Quais os principais movimentos / tendências que antecipa?
Felizmente, ao olharmos para o mercado, já conseguimos perceber que as empresas que se têm diferenciado e atingido bons resultados são aquelas cujo foco deixou de estar só e apenas no negócio, para estar igualmente focado nas suas pessoas. Afinal, são elas – as pessoas – o motor de tudo o resto.Para a concretização desta mudança, os principais motores têm sido as equipas de Recursos Humanos, que se têm vindo a tornar cada vez mais interventivas, de tal forma que já é difícil que as restantes estruturas não se apercebam da sua importância para o negócio. Estas são equipas que têm a mesma capacidade analítica que um Financeiro, a mesma curiosidade de um Marketeer, o mesmo foco nos resultados que um Comercial e a mesma eficiência operacional dum Gestor Logístico.
Tendo em conta a velocidade exponencial com que os negócios mudam hoje em dia, é difícil falar num horizonte a 10 anos. Mas, nos próximos 5 anos, as tendências passarão certamente pela liberalização do talento. Ou seja, se até agora prevaleceu o modelo do vínculo profissional exclusivo entre colaborador-organização, esse paradigma já está a mudar e vai ser cada vez mais comum os profissionais dividirem o seu tempo entre diferentes empresas ou a conciliarem a sua actividade numa empresa com um negócio próprio. Vemos cada vez mais pessoas a valorizarem a flexibilidade contratual, quando no passado um dos grandes factores de motivação era a estabilidade contratual.
Em termos de negócio iremos assistir a uma profunda transformação do sector financeiro, com emergência de Open Banks, a fusões no sector Segurador e ao crescimento progressivo dos canais de venda online, em detrimento dos canais presenciais. Iremos consolidar-nos como um país agregador de centros de serviços globais e assistir ao crescimento de alguns pólos industriais, no interior centro e norte do país.

Quais os principais conselhos de gestão de carreira que gostaria de transmitir a quem nos lê?
Nunca as carreiras foram tão diversificadas como hoje em dia. O mercado está em completa movimentação de talentos, há cada vez mais empresas à procura das pessoas certas para os sítios certos. Por esse motivo, é fundamental que quem pensa em mudar de vida, pense naquilo que o faz mais feliz, que mais o realiza e onde poderá aportar mais valor.
Neste sentido, os conselhos que poderei dar estão intimamente ligados não só com as competências técnicas, mas principalmente com as motivações de cada um. Todos enfrentamos diferentes momentos, durante os nossos percursos profissionais. Há desafios que nos realizam mais do que outros; há desafios que motivam a novas descobertas e preferências profissionais. Há momentos em que a vida pessoal muda e nos dá outra perspectiva sobre o trabalho.
Além disso, mudar de carreira pode ser, para algumas pessoas, um desafio aliciante, mas, para outras, algo que traz desconforto. Sinto que é importante ter a noção de que estas mudanças são cada vez mais comuns, e que trazem benefícios para ambas as partes: empresa e candidatos. Para as primeiras, ao contratar novos profissionais, estão a fazer com que a empresa ganhe outras perspectivas, competências e experiências, e, para as segundas, ao aceitarem um novo desafio – desde que seja o mais acertado para si – estão a realizar-se, pessoal e profissionalmente.