Conversas & Carreiras 

Maria do Rosário Vilhena

Head of HR Nestlé Portugal

Resumidamente, pode partilhar connosco o seu trajecto profissional?
Iniciei a minha actividade profissional na advocacia. Após um período inicial, integrei a equipa jurídica do então Instituto do Vinho do Porto, enquanto concluía o Mestrado em Integração Europeia. Tive aí o meu primeiro contato directo com a área de Recursos Humanos, pois parte da minha actividade consistia em dar apoio na área jurídico-laboral. Em 2002, iniciei a minha carreira na Nestlé, como Responsável de Recursos Humanos em Avanca (Fábrica e Centro de Distribuição), tendo posteriormente vindo para Lisboa, como HRBP da Waters Direct, onde fiquei aproximadamente 1 ano e meio, período em que tive a oportunidade de colaborar activamente no projecto de construção e de início de laboração da Fábrica no Montijo. Surgiu, depois, a oportunidade de Angola, para onde fui, em 2009, como Responsável de RH. Construímos aí a empresa quase do zero, construímos a equipa, abrimos a Fábrica…foi uma experiência fascinante! Após Angola, iniciei uma função de âmbito europeu, baseada em Frankfurt, em que apoiava as equipas de RH dos diversos mercados, na implementação de processos de melhoria e de optimização de formas de trabalho, bem como de projectos de desenvolvimento organizacional. Fui, seguidamente, convidada a ir para a equipa Corporativa de RH, na Suíça, onde assumi a mesma responsabilidade, mas com um âmbito mundial, para, em 2016, regressar a Portugal, como Head of HR. Sou verdadeiramente afortunada, porque sempre tive uma actividade profissional bastante enriquecedora e motivante, com experiências diversificadas e desafios da mais diversa ordem, nos quais tenho tido a oportunidade e o privilégio de trabalhar e de aprender com profissionais fantásticos.

Como definiria a sua missão, enquanto Directora de Recursos Humanos, no contexto da sua actual empresa?
O contexto actual em que operamos, tanto a nível local como global, está em constante mudança. O mercado está em permanente evolução, com novas empresas a surgirem diariamente, procurando dar resposta a clientes e consumidores cada vez mais exigentes e com necessidades muito específicas. O que eram tendências há poucos anos, como os produtos biológicos, sem glúten, o on-line, etc., são, hoje, realidades e áreas de negócio com um potencial de crescimento enorme. No contexto VUCA em que vivemos, temos de ser mais lean, ágeis, inovadores, sem estarmos limitados por processos de decisão demorados ou estruturas pesadas. Cada dia traz novos desafios e oportunidades, e é importante conseguir tomar decisões rapidamente, num contexto de incerteza, em que a mudança se tornou a nova constante.
Enquanto DRH, cabe-me assegurar que os nossos colaboradores e líderes estão equipados com as competências e skills necessárias para estarem à altura da missão, desenvolvendo a sua actividade numa organização dinâmica e ágil, em que a inovação, o desafio e a tomada de riscos são estimulados e valorizados, mas sempre tendo como referencial de actuação os nossos valores e princípios. Numa organização com mais de 150 anos de história, todos os dias trabalhamos para dar vida ao nosso propósito de “melhorar a qualidade de vida e contribuir para um futuro mais saudável”. Ser DRH é ser um gestor de transformação cultural, assegurando que – independentemente do desafio e do contexto – nos mantemos fiéis a nós mesmos e respeitamos a nossa herança, ou seja, que o respeito e as pessoas estão e estarão sempre no cerne de tudo o que fazemos.

Como vê o mercado de trabalho qualificado, em Portugal? Quais as tendências que merecem especial relevo?
Portugal tem vindo a passar por um processo transformacional extraordinário, ao longo dos últimos anos, o que naturalmente se transpõe para o mercado laboral, que é hoje extremamente dinâmico e “aberto”. Vivemos um momento único, com profissionais com capacidades também elas extraordinárias e que, independentemente da sua senioridade ou idade, não têm medo de empreender e de arriscar. E com isso vem um grande desafio para as organizações: em concreto, o de como potenciar ao máximo esse talento, de como o atrair e o reter. Os paradigmas de empregabilidade mudam, com um shiftda estabilidade e segurança para desafio, trabalho por projectos e uma “start up approach”, dentro da organização. Importa ter estruturas e ferramentas de trabalho flexíveis, que nos permitam “take work to talent” e “unlock” o potencial dos colaboradores, não os prendendo a uma função ou localização física. Globalização, analytics, digital, automação e AI, mais do que tendências, são realidades que hoje vivemos e que exigem que as organizações se transformem rapidamente. Importa encontrar em cada profissional o seu “talento único”, aquilo que o diferencia e torna uma mais-valia, assegurando autonomia, responsabilização e “fit” com valores e cultura da organização.

Considerando as suas funções actuais, qual o dia de trabalho mais desafiante e porquê – recorda-se?
Cada dia é um desafio em si mesmo, e é isso que para mim é extraordinário e motivante na Nestlé Portugal. Estamos numa fase de crescimento, mas também de transformação, e todos os dias me deparo com situações novas e inesperadas, que me fazem sair da “zona de conforto” e requerem abordagens totalmente novas e “out of the box”. Num ambiente tão diverso e rico como o nosso (temos mais de 25 nacionalidades na nossa sede, neste momento), interagimos com pessoas de diferentes culturas e “backgrounds” o que exige uma grande sensibilidade e “self-awareness”. O dia que mais me marcou até hoje foi o 1º dia, pelo seu significado e impacto emocional, do “regressar” a casa, com a responsabilidade de liderar e a vontade de contribuir e “fazer diferente”.

O melhor conselho que tem para um profissional, em 2018, é?
Arrisque! Em cada dia, traga a sua perspectiva e as suas convicções para a discussão; não tenha receio de dar o seu contributo e de tomar decisões. Nas organizações, precisamos de colaboradores, de parceiros, de pessoas que nos enriqueçam com a sua experiência e vivência, mas que também nos desafiem e nos questionem.