Conversas & Carreiras 

Ana Sousa

Talent & People Director, PT & Global People Strategy – Farfetch

Pode falar-nos sobre o seu percurso profissional?
Desde cedo que percebi que aquilo que me motivava era perceber as dinâmicas relacionais e investigar as razões que levam os seres humanos a reagirem e comportarem-se de determinada forma.
Quando me candidatei à Universidade, a minha motivação natural era seguir Medicina. Não tendo sido admitida, entrei em Psicologia, com o objectivo de fazer apenas o primeiro ano. Acabei por ficar e por gostar.
Terminei o curso na Universidade de Évora e fui convidada para ser Assistente, na área da Psicologia do Desenvolvimento. Deu-me imensa bagagem e vontade de continuar a estudar e a investigar cada vez mais (ainda hoje sou uma apaixonada por estudar). No entanto, a vontade de trabalhar num contexto de urgência médica fez-me candidatar na altura a uma empresa do Porto – a Alert – cuja missão era a de informatizar o processo clínico em hospitais. Assim, tive oportunidade de ministrar formação a profissionais de saúde, ao mesmo tempo em que vivia a realidade hospitalar. Surgiu a possibilidade de coordenar a equipa de trabalho no Hospital do Espírito Santo em Évora e aí consegui conciliar as aulas com a coordenação. Simultaneamente, iniciei o Mestrado na área da Gestão e houve a possibilidade de, em 2008, vir para o Porto e trabalhar na área de Recursos Humanos. Apaixonei-me pelo contexto da tecnologia e por trabalhar com pessoas dessa área.
Em 2012, integrei a Blip, uma empresa tecnológica, sendo que, 2 anos depois, fui contactada pela Farfetch, para assumir a responsabilidade na área de RH. Ter a possibilidade de construir uma equipa quase do zero era uma missão única e é daqueles momentos que são de facto um marco de viragem na nossa vida profissional. Passados quase 5 anos, continuo a desenvolver o meu trabalho na People Team da Farfetch, agora com uma componente de estratégia e um impacto cada vez mais global e com a possibilidade de me desenvolver e de construir, de uma forma contínua.

Como definiria a sua missão, enquanto Directora de Recursos Humanos?
Na Farfetch, não usamos a expressão “Recursos Humanos”. Somos uma equipa focada nas pessoas, por isso o nosso nome é People Team e a nossa missão é promover uma revolução de pessoas felizes (Happy People Revolution), contribuindo efectivamente para a felicidade de cada um. Não queremos apenas construir um negócio de sucesso e revolucionar o comércio. O nosso objetivo é, desde o início, proporcionar às pessoas um local de trabalho fantástico, com excelentes condições, a todos os níveis. Isto só é possível trabalhando em equipa e olhando com atenção para as pessoas – e esta talvez seja a missão mais importante, para alguém na minha posição.
Hoje em dia, é essencial também saber atrair talento de uma forma continuada. Não se trata só de identificar e recrutar. Temos de investir nas pessoas, dar-lhes as oportunidades de desenvolvimento que elas ambicionam, dar uma resposta capaz àquilo que são as expectativas legítimas de cada um. Para isto acontecer, descobri que é muito importante o ambiente familiar que promovemos na Farfetch, uma familiaridade autêntica, que nos permite conhecer cada pessoa e antecipar os passos necessários, para que sintam sempre que o trabalho que estão a desempenhar tem significado e importância, para elas e para a empresa.
A juntar a tudo isto, um Director de Recursos Humanos tem de ser um parceiro estratégico do negócio, porque desempenha um papel muito importante no sucesso da empresa. Na Farfetch, sentimos que temos espaço para poder sugerir, arriscar e inovar.

Se pudesse decidir, sem limitações, optaria por recrutamento interno, externo ou misto – porquê?
Uma empresa como a Farfetch tem sempre necessidades de recrutamento em aberto e está sempre à procura de talento. Nos últimos 5 anos, temos vindo sucessivamente a duplicar o número de colaboradores.
Estamos atentos ao talento que temos dentro de portas e, muitas vezes, já temos pessoas com as qualificações certas para uma vaga que acaba de surgir. A solução pode passar por promover alguém ou reajustar perfis e funções, e isso acontece naturalmente. No entanto, ao ritmo a que a Farfetch cresce, nunca podemos deixar de olhar para o mercado.

Como vê o mercado de trabalho qualificado, em Portugal? Quais as tendências que merecem especial relevo?
Uma grande parte dos nossos colaboradores é contratada para as equipas de Tech, Product e Operations, mas, naturalmente, ao ritmo a que a Farfetch tem crescido, estamos constantemente à procura de talento para todas as áreas. O conhecimento de Línguas, por exemplo, é muito importante para empresas globais como a Farfetch.
As qualificações e as competências técnicas são fundamentais, mas também é muito importante a experiência adquirida por cada candidato. Para nós, é essencial também que os potenciais colaboradores entendam os nossos valores, que acreditem na nossa missão e que, para além das competências técnicas, mostrem um “fit” cultural com a Farfetch, para que depois possam ser eles próprios embaixadores da nossa cultura.
Felizmente, temos pessoas com formação adequada e com talento em Portugal, mas, muitas vezes, estamos a falar de perfis muito particulares e com experiência específica numa determinada área que não é tão comum no nosso país, e, aí, temos de alargar o espectro de pesquisa, para encontrarmos exatamente aquilo que procuramos. De qualquer modo, como a Farfetch é uma empresa global, não pensamos tanto em contratar para um mercado, mas sim para a empresa como um todo. O nosso mercado é o mundo.

Que conselho daria a um jovem profissional de Recursos Humanos, com ambição de construir uma carreira e de fazer a diferença?
O perfil de um profissional de Recursos Humanos está em metamorfose. Para que os Recursos Humanos possam de facto ser parceiros estratégicos, têm de apostar em colaboradores que se interessem pelo negócio, que o percebam, que saiam “dos seus gabinetes fechados”, para se conectarem com os colaboradores da empresa.
Torna-se essencial que sejam pessoas que gostem de estudar vários assuntos, que investiguem, que pesquisem novas tendências, que saibam criar. Precisam ainda de começar a estar orientados a dados analíticos e suportarem os seus projectos e propostas sempre com dados relevantes. Só assim conseguirão falar a “mesma língua” que  o CEO.