Porque É Tão Difícil Encontrar Emprego, Em Portugal?
Esta pergunta dava para um livro. Vamos, em todo o caso, tentar explicar, tomando como base o caso português:
– a criação líquida de emprego é função directa da evolução económica de um país e sabemos bem o estado da nossa nação, de há uma década a esta parte;
– relacionado com o eixo anterior, deparamo-nos com um sub-indicador fundamental: baixos níveis de investimento público e privado, nacional e estrangeiro – nomeadamente daquele investimento que mais emprego cria;
– com excepção de certas indústrias (exportadoras e/ou nascidas já com verdadeiro cariz global), de certos sectores (economia digital, turismo e alguns outros em contra-ciclo), de certas profissões (IT/IS, digitais, certas áreas de engenharia), etc., existe um desequilíbrio que vai sendo cada vez mais estrutural, entre a procura de talento e a oferta de talento;
– a globalização e a mobilidade internacional, se podem funcionar a favor (no sentido da procura de oportunidades fora de Portugal), também tornam mais acessível a procura de talento (nacional, residente no estrangeiro, mas também de cidadãos da União Europeia e de terceiros) à escala global, com a tecnologia a desempenhar aqui um papel fundamental, enquanto facilitador;
– a profusão de novos formatos de trabalho, com vínculos juridicamente distintos, modos de organização diferentes, conduzindo a novas realidades sociológicas, nem sempre bem assimiladas, por contraponto ao clássico contrato de trabalho, em regime de templo completo e em exclusividade, com carreira e vínculo razoavelmente estáveis;
– como em todos os processos de ajustamento e de transição, assiste-se à emergência de novos “skills” (modelos colaborativos, “co-creation”, trabalho em rede, capacidades digitais e linguísticas, etc.) e de novas atitudes e comportamentos (mobilidade, volatilidade, “multi-tasking”, “networking”, resiliência, etc,), cujo domínio está longe de ser adquirido por segmentos significativos da população no activo (ou que gostaria de regressar ao activo);
– o peso elevado do chamado mercado invisível, correspondendo a oportunidades cujo acesso é assimétrico e objectivamente dificil, fora de certos círculos de influência;
– certas entropias e atavismos, que nos abstemos de desenvolver, mas que merecem ser objecto de referência.
Em conjunto, estas forças são poderosamente transformadoras. E mudaram, de forma clara, significativa e provavelmente “para sempre”, as regras do jogo. Chama-se a isto um novo paradigma. E é nele e com ele que temos que reaprender a viver.