Conversas & Carreiras 

Bruno Leonardo

Business Director Wyser

Pode contar-nos o seu percurso profissional?
Terminada a licenciatura em Sociologia, no ISCTE, inicio a minha primeira aventura profissional a tempo inteiro, na Office Day, empresa representante em Portugal da Office Depot, que é uma referência mundial na venda de material de escritório. Aí, fui o que se denomina por “comercial door to door”, com o intuito de apresentar a empresa e consequentemente os artigos e serviços disponíveis. Um ano e poucos meses depois, a experiência torna-se redundante e inicio a minha procura activa por uma nova situação profissional, surgindo a Manpower Portuguesa, na qual sou convidado para desenvolver comercialmente a empresa, que, na altura, necessitava de um perfil proactivo e orientado para resultados baseados em novas contas / novos clientes. A posteriori, surge um convite da Michael Page, por referência de uma ex-colega na Manpower, a Ana Bordalo, e aceito o convite de uma das marcas do grupo – a Page Personnel –, estando, inicialmente, focado no desenvolvimento do trabalho temporário para posições especializadas, mormente em Finance & Accounting. O retorno positivo garante-me, então, a possibilidade de desenvolver posições permanentes, na mesma área de especialização, e começar a contactar com perfis na Banca e Seguradoras. Dois anos e meio depois, a Randstad contacta-me, directamente, para reforçar a equipa da Professionals, o projecto que se baseava em desenvolver a insígnia Randstad Professionals. Posicionar o grupo num enquadramento de recrutamento & selecção especializados cativou-me, tendo entrado como senior consultant e saído, três anos mais tarde, já como manager. Entretanto, o Grupo Gi, multinacional italiana com presença nos cinco continentes, decide investir em Portugal, no sector do recrutamento & selecção especializados, tendo como marcas a Wyser (responsável pelo recrutamento e selecção e pelo executive search de quadros médios e superiores em diversas especializações: finance & accounting, que inclui perfis de recursos humanos, banking & insurance, sales & marketing, engineering & industry e, mais recentemente, tax & legal e retail) e a Qibit (unidade do grupo de recrutamento & selecção e de executive search de perfis de “informação e tecnologia”, bem como de outsourcing). Pelo meu expertise anterior, sou convidado pelo grupo para ser Manager da Wyser, em Lisboa, tendo a responsabilidade de gestão de todas as especializações, com quatro consultores. No presente momento, estou como responsável máximo da Wyser, a nível nacional, com o privilégio de estar a gerir uma estrutura de 13 consultores e com perspectivas claramente positivas.

Qual foi o processo de recrutamento mais difícil que levou a cabo, com sucesso, até hoje?
Sinceramente não consigo identificar um processo específico. Existem dois tipos de experiências que sempre considerei, e considero, mais exigentes e cativantes:
1) quando o cliente quer investir num novo departamento ou posição que não existe na estrutura (nestes casos, o nosso papel como consultor deve ser realmente impactante no apoio e definição do que é desejado, de forma a não cairmos no erro de, em conjunto, procurarmos o que não existe; o nosso expertise deve ajudar a guiar o nosso cliente que, na maioria das vezes, não tem perceção da senioridade do profissional versus pacote salarial existente no mercado e, sobretudo, das empresas-alvo em que o perfil comportamental desejado possa coincidir com a cultura e valores da empresa;
2) projectos em volume, com mais de 5 posições em simultâneo. No nosso enquadramento, estamos habituados a trabalhar uma única posição para um cliente específico e, neste caso, temos uma noção familiar do workflow desejado. Quando, pelo contrário, temos um cliente que nos exige várias posições a serem trabalhadas em simultâneo (exemplo: a criação e desenvolvimento de Shared Services Center), tal requer, do ponto de vista estratégico, uma definição extremamente exigente e minuciosa, antes do arranque do projecto, a qual, a posteriori, marcará o mesmo, do ponto de vista operacional, por forma a não derraparmos, em termos de timings de entrega, e a garantir a qualidade desejada nos candidatos a apresentar.

Há espaço, em seu entender, para inovação relevante, no mercado nacional de recrutamento profissional, ou “o nome do jogo” passa mais por aumentar a eficiência e eficácia das operações já estabelecidas?
Como se costuma dizer, “a roda está inventada”, por isso concordo que o que podemos aumentar é a eficiência e eficácia, baseado nas ferramentas tecnologias existentes e que irão continuar a evoluir, o que permite, por exemplo, ter neste momento plataformas online de avaliação de candidatos, para tornar o screening inicial de requisitos mais eficiente e, inclusive, de avaliação online de soft skills. No meu entender, a tecnologia pouco acrescentará, se continuarem em falta dois pontos fundamentais no recrutamento profissional para o colocar num nível de confiança e eficiência superior:
– primeiro, a capacidade das consultoras de serem uma real extensão externa do cliente, de compreenderem realmente os desafios, as necessidades e dificuldades que cada empresa enfrenta – o que exige disponibilidade e sensibilidade, do nosso lado;
– por outro lado, o feedback e acompanhamento dos candidatos deve, desde logo, existir e, logo depois, ser construtivo – o nosso papel é social e determinante.
Estes têm sido dois temas que a Wyser tem colocado como prioridades, desde o início do projecto. Das apreciações produzidas pelos nossos candidatos e clientes, sentimos que já temos tido um impacto positivo, não perfeito obviamente, com espaço para melhorar. Continuamente, será esse o nosso foco, estando dentro dos valores que subscrevemos.

Que conselho de carreira dá aos nossos leitores?
Os conselhos são diferentes, tendo em conta o enquadramento etário.
Para os leitores sem experiência ou pouca experiência profissional, gostava de ser idílico e indicar que devem seguir os vossos sonhos, mas devem, isso sim, procurar informar-se a priori, analisar o mercado de trabalho e perceber se as vossas motivações primárias podem tornar-se uma realidade, se há espaço no mercado para vos integrar. Caso não haja, adaptem-se rapidamente e sejam pragmáticos.
Para leitores com uma experiência profissional considerável, mantenham-se actualizados, para não serem ultrapassados. O mercado de trabalho está cada vez mais exigente e em constante mutação. Estejam realmente atentos e, dentro das vossas possibilidades e das empresas onde estiverem, apostem na formação.

Lembra-se de um particular sucesso, como recrutador, que ainda hoje sinta como seu cartão de visita?
Os sucessos de um recrutador estão intimamente relacionados com a referenciação do nosso trabalho por candidatos e clientes. O nosso desenvolvimento depende disso e eu não fujo a isso.