Conversas & Carreiras 

Pedro Amorim

Managing Director – Experis

Pode contar-nos o seu percurso profissional?
Comecei a minha carreira em recrutamento e selecção por uma feliz coincidência. Na altura, necessitava de realizar um estágio de 320 horas e, enquanto aguardava pela colocação, um dos meus colegas de curso disse-me que tinha começado a colaborar com uma pequena empresa de consultoria, recentemente criada. Perguntou-me então se não estaria interessado em conversar com o Director Geral. Recordo-me que, em conversa com o Director Geral, uma das primeiras aprendizagens que me passou foi que quem não fosse ambicioso e quisesse ter um emprego das 9 às 5, não teria sucesso em consultoria. A verdade é que desconhecia a actividade, mas acabei por abraçar o desafio – e as 320 horas duraram 9 meses. Foi um tempo de grande aprendizagem, onde tive a oportunidade de fazer a minha monografia de final de curso. Certo é que a minha passagem por essa empresa moldou claramente aquilo que seria a minha vida profissional e tudo aquilo que conquistei, ao longo destes anos. Recordo-me que, na altura, alguns dos meus colegas de curso estavam a estagiar em grandes empresas, alguns inclusivamente a terem remuneração, mas tenho a certeza que eu fui o que mais ganhei, por ter passado 9 meses a investir em mim. Não há dúvidas que ter iniciado a minha carreira numa estrutura pequena, me permitiu ganhar diferentes valências, aprender com pessoas com grande experiência profissional e ganhar o gosto pela actividade de consultor.
Passados esses 9 meses, casei-me e decidi embarcar numa experiência fora do país. Como a vida dá muitas voltas, quando regressei, a empresa onde tinha estagiado foi precisamente a empresa que me deu uma oportunidade para voltar a trabalhar como consultor. A partir daí, a minha carreira foi-se desenvolvendo, através das diversas oportunidades que foram me foram apresentadas. Confesso que nem sempre fiz as melhores opções, mas tenho a convicção de que todas elas me ensinaram a ser melhor profissional.
Os últimos dez anos foram sem dúvida os mais desafiantes, tanto pelo nível de responsabilidade que tive de assumir, como pela gestão financeira, de equipa e de desenvolvimento do negócio. Quando iniciei o projecto em que me encontro, em 2013, éramos 5 consultores, actualmente somos mais de 50, na área de recrutamento especializado e project solutions e 242 consultores colocados em clientes.

Daqui a dez anos, qual será o cenário da indústria, em Portugal? Quais os principais movimentos / tendências que antecipa?
Acreditamos que o mercado de recrutamento vai ser positivamente impactado pela tecnologia. A inteligência artificial é hoje, mais do que nunca, uma realidade bem presente na actividade e pode ser uma preciosa ajuda para os consultores, nos processos de recrutamento, em fases onde as máquinas podem ser um acelerador, nomeadamente na triagem de candidatos, na avaliação de competências ou na gestão do feedback
No entanto, estou convicto de que a parte humana continuará a ter um papel absolutamente essencial em todo o processo, principalmente em tarefas que exigem inteligência emocional, campo onde os robôs não vão conseguir ser úteis. Recordo as palavras do professor António Damásio, que diz que, por mais evolução que haja, as máquinas nunca terão emoções, já que estas são resultado de um conjunto de processos bioquímicos. O desafio está em adaptar e desenvolver novas competências que os consultores precisam adquirir, para se adaptarem às constantes mudanças que a tecnologia irá introduzir na actividade.

Muitos candidatos apontam a falta de “feedback” como uma das principais críticas à actuação das empresas e profissionais de recrutamento. A que se deve esta realidade, que cremos ser relativamente comum, quase banal(lizada)?
Diria que a falta de feedbacké um dos muitos desafios que o mercado de recrutamento enfrenta, actualmente. Contudo, não há como negar que a falta de feedbacké uma realidade e que tem impacto decisivo na experiência do candidato.
Existem diversos factores que podem influenciar o feedback, mas, em muitos casos, o próprio cliente não dá a sua avaliação da entrevista do candidato ao consultor, o que deixa este último numa posição difícil, mesmo não sendo sua culpa. Para mim, o feedback deve partir da máxima popular: “trata os outros como gostaria que te tratassem a ti”.

Qual foi o seu melhor dia de trabalho – recorda-se?
Numa carreira já longa e com tantos sucessos, foram muitos os dias especiais com promoções, prémios de desempenho ou reconhecimento pelos resultados conquistados. Mas, recentemente, tive um episódio que foi certamente um dos mais marcantes: um dos consultores que trabalhava na Experis, no seu último dia na empresa, disse-me que não tinha a certeza se estava a tomar a melhor decisão, mas que precisava de seguir um novo rumo e testar as suas capacidades.
A parte mais gratificante foi quando me disse que levava da Experis muita coisa, sendo a melhor de todas o meu exemplo de superação. Que diariamente dava o melhor exemplo, para a equipa conseguir sempre dar o melhor dela. É muito marcante ouvir estas palavras, já que a gestão de pessoas é umas razões pela qual escolhi este caminho. Gosto de as envolver, desafiar e retirar o melhor delas. Haverá melhor reconhecimento do que isto.

Que conselho daria a um jovem profissional de recrutamento especializado, com ambição de construir uma carreira e de fazer a diferença?
Acho que cada pessoa deve trilhar o seu caminho, e a aprendizagem vai ser sempre diferente para cada um dos consultores. Todavia, há conselhos que são basilares, nesta actividade. Ser consultor não é ter um trabalho das 9 às 5, envolve muito esforço e compromisso. É necessário trabalhar diariamente focado nos nossos objectivos, planear e saber respeitar tanto os candidatos como os clientes. Se tivesse de resumir em duas palavras, diria: ambição e superação.