Conversas & Carreiras 

António Costa

COO – EO Executives Spain & Portugal

Pode falar-nos sobre o seu percurso profissional?
O meu início de actividade enquanto consultor acaba por ser uma feliz sucessão de acontecimentos. Entrei para a Hays para trabalhar na área financeira, mais concretamente em controlo de crédito e cobranças. Simultaneamente, estava a frequentar a faculdade, já em tempo tardio, no curso de Psicologia. Após um ano, convidaram-me para passar para consultor, porque achavam que a minha postura poderia resultar na profissão. Aceitei, mas foi curioso que me colocaram imediatamente a recrutar para um sector técnico.
Após esta primeira enorme escola, tive oportunidade de continuar a aprender e evoluir, principalmente na Michael Page onde acabei, em dois períodos, por trabalhar 8 anos. Sempre ligado a sectores técnicos e com responsabilidade crescente em gestão de pessoas. Necessitei de ir aprendendo novos mercados à medida que os ciclos de crise iam surgindo. Também aqui, passei pela óptima experiência de trabalhar em outro país, neste caso Marrocos.
Agora, enquanto COO da EO Executives, e após a consolidação de muitas experiências, pretendo contribuir, acima de tudo, para um processo melhor para candidatos e organizações.

Quais os factores atitudinais “soft skills”que mais aprecia nos candidatos, de forma transversal?
Estrutura, honestidade e compromisso são as três atitudes que gosto de encontrar nos candidatos. Gosto de entrevistar pessoas que pensaram na sua transição, antes mesmo de iniciarem um processo, que são íntegros na explanação das suas experiências, boas e más, e, finalmente, que cumprem com a sua palavra.
Eu diria que liderança é porventura uma das maiores lacunas, de uma forma geral, sendo inclusive visível nas organizações sinais evidentes do “Princípio de Peter”. A este facto está obviamente ligada a falta de interesse dos profissionais em se manterem actualizados, ou seja, a falta de proactividade.
Finalmente, inteligência emocional é algo que ainda não pode ser replicado na íntegra por máquinas, e que poderá fazer toda a diferença na relação das pessoas e das organizações.

A sua experiência pessoal, enquanto recrutador profissional, mostra-lhe alguma lacuna fundamental, em termos de “skills” e/ou competências, no nosso mercado de talento?
O mercado de trabalho é volátil – e inclusive, em alguns momentos, de modas. Eu diria que presentemente a capacidade de nos adaptarmos às sistemáticas introduções tecnológicas é um desafio, principalmente para aqueles que não se prepararam antes.
Reforço uma ideia da resposta anterior: inteligência emocional. Esta passa também por compreender que as organizações, hoje, procuram especialistas que cumpram uma missão. E nós, enquanto profissionais, podemos fazer essa missão em várias empresas e em espaços de tempo muito mais curtos que o tradicional “emprego para a vida”.

É comum ter candidatos, de nacionalidade portuguesa mas residentes no estrangeiro, fruto da emigração qualificada, nestes anos mais recentes? São diferentes, de algum modo, dos candidatos que entrevista e que não passaram por essa experiência?
É realmente comum. Qualquer profissional que tenha passado por uma experiência internacional nunca deixará de o mencionar. Reparem na minha resposta à primeira questão. Isto acontece porque a participação num ambiente externo completamente fora da nossa zona de conforto cria um desafio psicológico mais duradouro no tempo.
Não diria que os candidatos sejam diferentes, mas sim que algumas experiências internacionais, dependendo obviamente dos contextos, podem aportar muita valia à consolidação dos conhecimentos de um profissional.
Saber fazer algo de várias formas é sempre útil, pois podemos escolher a que melhor se adapta em cada momento.
Exemplo concreto: um profissional que tenha trabalhado em logística em África. Os recursos não estão disponíveis, os “timings” para desalfandegar são outros, o planeamento de transporte é complexo, a mão-de-obra está menos identificada com a organização, etc. Este profissional quando chega a outra realidade, tende a ter grande facilidade em prever situações difíceis e consegue reagir mais rapidamente.

Quais os conselhos de gestão de carreira que gostaria de divulgar?
Não inicie uma transição de carreira sem estar consciente das razões. Efectue uma análise SWOT da sua actual situação e avalie se seria melhor ou não a mudança.
Mantenha-se informado, principalmente em matérias relacionadas com a sua área de especialização (e este caminho não tem de ser unicamente pela via académica).
Cuide das pessoas que o rodeiam. No fim do dia, todos temos família, expectativas, ambições, motivações, competências e incompetências
.