Conversas & Carreiras
António Costa
Senior Manager da Robert Walters
Quais são, no seu entender, as características-chave que fazem de um (a)recrutador(a) um(a) recrutador(a) de excelência e de referência?
Na minha opinião existem duas características que são essenciais a um profissional a actuar em recrutamento, Inteligência emocional e escuta activa. Considero que um processo de recrutamento é um jogo de expectativas, quer do lado do empregador quer do candidato, não me refiro apenas a questões salariais, mas sim a toda envolvente a uma mudança. As empresas têm sempre a expectativa de encontrar no mercado o melhor talento, seja à imagem da pessoa que estão a substituir ou outra qualquer ideia do perfil ideal. Por vezes esta expectativa das empresas têm que ser enquadrada e é nesse sentido que um consultor deve ajudar o seu cliente a situar a sua necessidade no que o mercado tem para oferecer.
Já o profissional que procura um novo desafio tem a expectativa de manter tudo o que de bom adquiriu na sua carreira, adicionando novas componentes que lhe permitam satisfação.
A inteligência emocional a que me referia, enquadra na mediação / compreensão entre o que cliente e candidato procuram e o que realmente existe no mercado.
A escuta activa para alguém que se relaciona diariamente com pessoas é um requisito obrigatório, quanto mais soubermos sobre os nossos interlocutores (cliente e candidatos), menos espaço existe para a dúvida ou para incompatibilidades no processo.
Como definiria a sua missão, enquanto recrutador profissional?
O conceito é simples, a missão nem por isso, ainda assim definiria como, encontrar o candidato mais motivado para um projecto profissional, que possui as diferentes skills requeridas pelo empregador, proporcionando a ambos um sentimento de realização em relação ao processo de recrutamento.
Actualmente, na sua opinião, quais são os principais desafios da indústria de recrutamento especializado?
Inclusão de ferramentas digitais, nomeadamente ao nível de AI e ML no processo de recrutamento. Hoje os processos, ainda são muito administrativos, a tendência é que tudo o que sejam tarefas que não incluem a interacção humana possam ser efectuadas de forma automática pela tecnologia.
Adicionalmente, e como opinião pessoal, considero que o recrutamento continua a ser o parente pobre nos departamentos de Recursos Humanos, ou seja, o tempo despendido por estes gestores com o recrutamento comparando com outras matérias como retenção e desenvolvimento é manifestamente menor.
Se pudesse enunciar o maior desafio que a indústria de recrutamento enfrenta, qual seria?
Eu diria que é um mercado cada vez mais transformacional, as empresas não planeiam os processos e quando as necessidades surgem, usam e abusam das empresas de recrutamento no sentido de obter currículo. A qualidade do processo é má para o candidato e curiosamente para o próprio cliente, mas é uma tendência do mercado.
Poderíamos ainda adicionar a mudança de paradigma funcional nas empresas, ou seja, o desaparecimento e aparecimento de novas funções o que obrigará os consultores a adaptarem-se rapidamente às novas skills e tecnologias solicitadas pelas empresas.
Se pudesse decidir, sem limitações, optaria por recrutamento interno, externo ou misto – porquê?
Optaria por qualquer uma das opões dependendo da capacidade do meu departamento de recursos humanos de satisfazer as necessidades do cliente interno.
Sendo eu um fornecedor de serviços de recrutamento poderia pensar-se que apoio apenas o recrutamento externo, mas não é o caso, defendo um recrutamento de qualidade e especializado, seja feito por empregadores ou agências de recrutamento.
O importante é respeitarmos os candidatos que procuram uma oportunidade de melhorar algo na sua situação profissional.